terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um texto antigo que recuperei do fotolog. Antigo, mas ainda tão importante pra mim.


"Um dia ainda vou escrever um livro sobre um menino que cresceu acreditando só no amor e em mais nada.
Sem religiao, sem outros sentimentos. Tudo que sentia acreditava que era Amor, ou consequência dele.
Quando via pássaros, via que eles também amavam, assim como os gatos, o portão e a trepadeira, as mesas e cadeiras. Tudo era ligado e amava.
Quando chorava era pela falta de Amor, quando brigava era para ensinar a amar.
Tudo era Amor. E quando descobriu isso mais tarde acreditou que era uma pessoa boa.
Amou muito. Descobriu, ouvindo, que a coisa mais incrível da vida era amar e ser amado. Depois refletiu e pensou que a pior coisa da vida era ter o poder de amar e ninguém notar.
Chegou a colecionar amores. Como um dia fez com figurinhas e pedras de rio.
Pensou, ao decidir sua profissão, se não teria a oportunidade de fazer uma faculdade para trabalhar no Ministério do Coração.
Cantou todas as músicas que falavam de amor. Leu todos os livros. Decorou e declamou poesias pra mostrar que vive disso e somente disso. Disso: de Amar.
Numa sexta-feira nosso protagonista resolve sair de casa e se divertir. O tiro sai pela culatra. Passa a noite assistindo a amores instantâneos. E fica indignado ao ver o amor se alastrando de forma instantânea como se faz um miojo. "Aqueça um olhar até ferver, depois junte sua cantada, tempere aos gostos, espere três minutos e delicie-se". Aquela levianidade o deixou mal. Se sentiu incompreendido, adoeceu. Ele que se preocupava tanto em amar via o amor escorrer por aí - pisado como água suja de chuva em poças na rua.


ainda nao sei o final.
mas acho que ele tem algo de Macabea."



JG



Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
-Drummond-

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