sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Quis escrever um drama (sem)(de) propósito

Eles têm uma vida comum. Uma vida de família. Dependendo qual padrão de família você reconhece. Pais e um filho: dois sorrisos falsos e um sempre emburrado saindo de restaurantes caros, entrando em carros bem equipados.

À noite ela espera sentada no sofá, de frente para a porta que ameaça ser aberta a cada instante. No robe confortável, à meia-luz e um copo que merecia um whisky mas só tem água. Água do gelo derretido, é claro. Ela mantém um perfil de olhar vago para dramatizar o passado e maquinar a cena por vir.

Quando a chave gira na porta ele já espera uma atitude e nem se preocupa em entrar pé-ante-pé no apartamento. Sabe que são os dois apenas. "Papai, viaja para Paris e me deixa de enfermeiro com essa louca."

"Você... criado como um cartão de crédito, a quem ele ama igual ou ainda mais. Quem você pensa que é, pequeno monte de ganância vestido em cifrões dos outros?"
Voz calma, soberba e ligeiramente insana. O script está correndo bem... "agora ele vai suspirar, dar de ombros e sair para o quarto. Minha deixa."

"Não! Chega de fingir que os problemas não estão crescendo entre nós. Eu não sei mais da sua vida sem rumo desde que você saiu daqui, ó!"

- Cala a boca e vai dormir, mamãe.


Ele está passeando, trabalhando, comendo croissant e se divertindo com amantes. Ah, porque me exigem manter uma família?



JG

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