I
Não viveram os poetas em cavernas
Não se trancaram em porões
Não acordaram e morreram em prisões
Viveram, voaram e viram tudo quanto mais podiam.
Sentimento nasce dentro e se emoldura naquilo que se vê.
Quem vê mais voa e não volta.
Traz de volta tudo de fora
Pra entender tudo que há dentro
E depois botar tudo pra fora
no papel, em torno destes tormentos.
II
Daqui de cima entre lua e rua
cada janela amarela é vida uma
vivendo na sua entre blocos duros
escondendo a vida no escuro próprio dela.
III
Rasga as grades
invade
Corre as cortinas
invade
Assopra a poeira
passa
Derruba um quadro
vai
Como sangue nas veias
incorpora
Apaga as velas
dá vida
Vira a página do livro
continua
Roda o que lhe cata
colore
No vão da janela
assobia
No cabelo dela
me inspira
Inspiro-o e expiro na tinta
No papel vira versos de poesia.
JG
"mas o eco só responde:
onde?"