quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Das músicas que escuto

Simplesmente não dá: vida sem trilha sonora é impossível.

Eu sei que é mais uma vez minha necessidade-cinematográfica-infantil falando, mas não dá para viver cada momento 100% sem uma melodia que expresse a audição do sentimento .

Eu acordo e vejo a fresta de luz que inunda o quarto escuro às 7 da manhã. Eu acordo e tateio em busca do meu celular. Eu acordo e degusto minha saliva matutina desprezível, engulo. Eu acordo e não ouço.

Vou ao banheiro. Escovo os dentes. Me encaro no espelho. Volto ao quarto. Abro a janela. E ligo o som.

Aí eu acordo de novo e ouço como vai ser meu dia.

Um jazz, meio bossa nova, toca. A vozinha doce da vocalista do Delicatessen , a arrumaçao da cama e a calma. Faz cantar passarinhos. O dia começa lento e prudente.

A ironia realista de Kate Nash dá uma animação debochada e esperta. As coisas saem malandramente planejadas. Acordo com aquela sensação gostosa (e perigosa) de "eu rio na cara do perigo".

Mas seu eu ponho um Chico Buarque, eu acordo sonhador. Penso: a vida é linda e sofrer por ela é conseqüência. Não é o melhor jeito de acordar, mas é o mais belo.

Porque não há melhor modo de acordar do que acordar de vez e sair correndo mesmo sem sair do lugar. Sabe aquela sensação de maximização de tempo com tudo programado? Então... basta eu tocar um Justice em bom volume para dançar e passar o resto do dia dançando. A coreografia da rotina fica mais divertida e melhor compassada. No ritmo certo.

Mas sabe, não vou ser generalista e dizer que pra cada passo tem uma nota. Afinal, que música pôr antes de dormir? Aquele momento sob as cobertas, no escuro e com os olhos abertos? Que música ouvir na reunião necessária ou durante o trabalho a ser feito? *

Às vezes o silêncio é uma das faixas favoritas da minha soundtrack.


JG

*Aqui, reconheço: sou pensador e futuro executivo, mas resisto em nunca executar tal pensador.


"Cuidado! Seus ouvidos podem ter paredes."
-autor desconhecido-

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um dia um homem nasceu menino com o coração enforcado no cordão umbilical. Nascia com o coração apertado, ingênuo, quase não pertencia a ele. Um coração que nasceu já rebelde e adolescente, e, devido à desgraça que lhe mutilou quando veio ao mundo, nunca iria amadurecer. O amor que encerrava, quando quieto na barriga da mãe, foi empremisdo, arrancado, e hoje ele não desiste de procurá-lo. Foge do próprio corpo e tropeça, se rasga, se mutila, mas não desiste, pois, se venceu a forca quando nasceu, não ia desistir do amor que lhe foi arrancado.

Pobre coração que não sabe que nasceu vazio e nada lhe foi tirado ou reposto. Quando nasceu apertado o problema era só seu.

Pobre coração iludido que sente falta do que nunca existiu. Vai continuar correndo os olhares, cansado, ofegante, e vai parar um dia. E quando parar vai ser só do que sempre foi feito: esperança e sangue.

JG

"We all go round and round
Partners of lost and found
Looking for one more chance
All I know is,
We're all in the dance"

sábado, 27 de setembro de 2008

setemesesdesampa

Conclusão após um semestre: São Paulo me fez descriativo. (ponto)

Não me venha com palavras de consolo. É isso que acontece comigo de baixo da neblina cinza.

Uma rotina com ápices e abismos que tornou comum os passos, dados uns atrás dos outros. Já não têm me levado a lugar algum. Ando meio desnorteado. É fato dado. As conversas não são mais interessantes, as palavras que digo já não causam arrepios. Desaprendi a sentir.

Só um grande amor me acordava e ligava o modo cinematográfico de cores impressionistas que se escondeu dentro de mim. Outro dia ainda fiz surpresas amorosas como correr em meia hora para dizer que "te adoro" e acordar bem cedo pra deixar uma flor na sua porta. E nessas horas sabia que estava vivo e não me entreguei à inércia do dia-a-dia.

Mas me reconheço como bipolar por natureza. Geminiano dá nisso, sabe? E o ciclo volta a se manifestar. O cinza volta ao seu lugar. O cinema continua dentro do estúdio: com vento falso, sol-de-mentirinha e falas prontas que dispensam reflexões prévias.


JG


"Minha vida não foi um romance
Ai, de mim... já se ia passar

Pobre vida que toda depende
De um gesto, um sorriso, um olhar."
-Mário Quintana-

Do início.

A primeira lição que tomei, da época que escrevia muito e muita bobagem, é que a escrita boa só aparece quando você não quer e não tem um pedaço de papel.
A segunda é que os melhores escritos surgem quando os dedos estão embriagados de melancolia e a boca embriagada de maldções.
A terceira é que, para pensar em escrever, deve-se escrever primeiro e depois pensar.

Hoje, essas regras me estimularam a recomeçar a escrever.
Escrever só por escrever: descansar o coração cansando os dedos.

Desculpa se me expresso como um aprendiz mal-educado e rebelde, mas... "Penetra surdamente no reino das palavras e" brinca! As palavras não são tão pesadas como alguns pensam que são. Uso cada uma junta da outra pra tentar formar um sentimento só que nunca se expressará da maneira correta. E as traduções, as interpretações, as hermenêuticas... nunca serão sinceras e genuínas. Que se lasquem!

Aprendi a escrever para deitar a cabeça vazia no travesseiro à noite. Quando a raiva vem, quando as lágrimas caem, quando os clichês aparecem inevitavelmente, eu escrevo. Não me interessa o produto: receita de torta ou poemas épicos de versos alexandrinos.

Na maioria das vezes gero só um mal-dizer infantil, reconheço nesses meus primeiros dizeres.
Não ligo.
Me recupero nos pensamentos que guardo, que não escorregaram pro teclado.

JG


"Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam."
-Carlos Drummond-