sábado, 10 de setembro de 2011

Outros ares.

Mudei tudo pra

www.dosversosqueli.wordpress.com

JG


"Navegar é preciso, viver não é preciso."

sábado, 13 de agosto de 2011

Estrofes curtas de uma boemia ensaiada.

*A ideia é: cada um bebe o que quer, sugere um tema e derrama palavras.*


(tema: esquentar as canetas)

A Lua de ontem
brilhou só metade
de um sorriso tímido.

A Lua de ontem
não gargalhou estribilhos
entre suas estrelas mortas.

A Lua de ontem
dormiu coberta
sem acorbertar suicídios.

A Lua de ontem
foi passear lá fora
longe fora, fora de órbita.

Alheia me faz favor
de não raiar sobre
seus filhos que acordaram sozinhos.




(tema: Noite)

Vamos lá fora onde
os homens são lobos
as mulheres princesas
Buscar dragões com
nossas lanças de bravura jovem.

Traçar as danças das
pernas trançadas num
buffet de possibilidades loucas.

Acordados sonhar boas e poucas.

Porque o dia vem com a idade
e a noite foge com a luz
da inegável realidade.




(tema: Loucura)

Prévê

Soluço de bruço
É lagartixa espasmódica
Pulso vivo da piada pronta.

Ebugalhos, olhos e alhos
É choro pleonástico
Cheiro módico de drama sacro.

Tapetes persas em pretoebranco
com gráficos em art decor
Rococó na cena casta
                           falsa, sem graça
                           falsa, sem Aranha.

Tudo visto, insisto no mesmo
roteiro imprevisto que desmonta o cenário.

Canários dançam.




(tema: Agora)

A cor de breu
do fundo do pano
do pano de fundo falso
que seu amor se pintou no meu.

Não serviu de talha, toalha
ou mortalha nas lágrimas
que carpi no nosso
enterro de adeus.




(tema: Não tema)

Não tema.
Vai.
Cai.

"Não se precipite"?!

Precipício-se.




(tema: risinho no final do poema)

Lágrimas de cima
jorra escorre borra
rega um canto do sorriso
sua como esforço de forçar o ciso.

-pausa. -espera. -continua.

Lágrimas de baixo
jorra escorre borra
rega esse cantinho que sobrou liso
sua como o ciso de criar um filho.




JG

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Chave, carteira e celular.

A partir da minha primeira fugida de casa para as matinês, noites e madrugadas, o habito consolidou-se em um movimento automático. Banho, roupa, perfume e, na hora de sair, chave, carteira e celular. Mesmo quando comecei a sair sem saber para onde ia, no bolso o trio me ancorava: chave carteira celular. Ate que conclui que tudo que precisava era contatos para encontrar, dinheiro para poder ir e chave para ter para onde voltar.

E aceitei a pequena epifania dos hábitos.


JG

domingo, 31 de julho de 2011

LUZAMOR

Uma manhã de domingo nublada e despretensiosa, sem nenhum atrativo extraordinário, acomoda senhores nos bancos da Parque da Luz. Entre as árvores dominantes, de postura firme e copas acolhedoras, os amores esperavam. Alguns grupos isolados tocavam viola, jogavam dados ou admiravam o povo passando enquanto salpicavam alguns comentários aqui e ali. Mas muitos estão sozinhos. Sentado no banco onde cabem dois, um sozinho só espera, com os braços entre as pernas e o olhar perdido entre o verde do jardim. Ao primeiro que encontrei, achei curioso. Parece que saiu de casa sem rumo, encontrou um banco e ocupou seu lugar de escultura, compondo naturalmente a paisagem. Mais uns passos e vi outro. Depois outra. E mais uns. Cada qual no seu banco, onde caberiam dois. Dois, como os casais de namorados que também pareciam se multiplicar a cada passo, a cada banco. Casais de namorados poderiam roubar minha atenção ou um sorriso, mas o que me intrigou foram esses Solitários e seus olhares de busca. Quando vi que do lado de um desses senhores, impregnado de melancolia como o próprio musgo nas esculturas, se sentou uma moça. Perdi o exato momento do encontro, mas percebi que eles não se conheciam nem tinham nada combinado. Mas se encontraram. Olhei ao redor imediatamente e notei os olhares virarem e suspirarem como se dissessem "Sortudo...". A ideia iluminou-se e esclareceu-me que estavam ali esperando amores. Amores que passariam a qualquer momento. Amores que cravaram tantas rugas por debaixo da suas peles tenras de estátuas, mas voltariam a passar para lhes dar vida novamente. Eles não procuravam, buscavam, caçavam o grande tesouro da humanidade que poderia estar enterrado em qualquer coração transeunte. Eles esperavam, com a certeza de que em algum domingo ele se sentaria ao seu lado sem ter nada combinado.

Nesse momento imaginei que eles estariam ali há séculos e continuariam assim, vivendo da própria fome. Se fossem acompanhados em algum domingo, provavelmente morreriam na terça ou quinta-feira após o tão aguardado encontro-não-combinado. Pois a espera é a calma das estátuas, que por não viverem, não morrem.


JG



"As flores de plástico não morrem."
- Tony Bellotto / Sérgio Britto / Charles Gavin / Paulo Miklos - 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A morte de Amy, o choro de Chico e nenhuma conclusão.

Quando ouvi a notícia do au revoir às excentricidades de Amy Winehouse na manhã de sábado, a primeira e única explicação que me veio à cabeça foi: "Ela não conseguiu achar a resposta para toda suas questões românticas... nem mesmo nas drogas, onde procurou tão a fundo". (Posso chamar morrer de overdose de "suicídio culposo"?) Com certeza ela foi uma fanfarrona, mas além disso, acredito, ela buscava, de todas as formas, explicar o amor ou a ausência dele. Uma Madame Bovary da Cracolândia.

Se os gênios morrem de depressão, desilusão ou afogados na própria loucura, enquanto o caboclo entre o céu azul e a terra vermelha se vai de exaustão depois de anos de rotina simples, posso concluir que a felicidade está na conformidade da ignorância? Cada dia, cada desengano, cada decisão errada que tomo, penso mais e mais (ironicamente) que pensar demais não faz tão bem.

Não quero dizer que Amy Winehouse foi grande filósofa do século XXI, mas acredito que sua busca intensa é a concretização da dor daqueles que se questionam tanto.

Minha idéia? Vamos baixar um referendo deletando as metáforas e metafísicas! Vamos erguer um monumento a Alberto Caeiro em praça pública! (ou não, pois esta seria o próprio anti-movimento). Vamos trazer o subjetivo à tona e deixar a objetividade reinar. Vamos preencher a semiótica e deixar a ótica lógica e sem óculos. Uma vez ouvi uma crítica do Manoel de Barros a um simples livro infantil dizendo que "a metáfora empobrece a poesia". Isso mesmo! Pensar dói e complica.

No domingo seguinte, ouvi Chico Buarque o dia inteiro - suas tramas, rimas, enredos e idéias geniais sobre a vida, o amor, as mulheres... e de repente me toquei: "Porra, Chico! Eu admiro fanaticamente seu trabalho, mas convenhamos que a vida seria muito mais fácil sem você". Ao mesmo tempo que suas letras explicam tantos sentimentos e eventos confusos, plantam vento nos neurônios apaixonados, que acabam se afogando na tempestade que colhem.

Estou começando a achar que essa síndrome de Zequinha que ronda minha rotina deve ser estancada o mais rápido possível. Em vem de "por quê? por quê? por quê?" vou começar a aplicar mais "Ah, tá..." 's e seguir em frente fingindo que não vi a flor brotando no muro, como tanta gente faz. Viva a sabedoria de Clarice Lispector quando convicta afirma que "o cão é livre pois é o mistério vivo que não se indaga". Au!

Não sei se culpo uma fagulha de artista que resiste em mim, não sei se leio demais, não sei se tenho 7º sentido, não sei se a posição de Netuno não convergia com a constelação de Gêmeos quando nasci... Só sei que parece muito mais fácil quando vejo os outros tão alheios ao céu pintado com todos os tons de dourado às 16h30, da janela do escritório.


JG


"Mentira..."
-Chico Buarque - Samba do Grande Amor

sexta-feira, 24 de junho de 2011

PAIXÃO

Meu melhor amigo na minha infância tranquila de bairro e com parentes muito presentes, era minha prima, Jéssica Romero: um ano mais nova que eu e com infinita imaginação para brincadeiras. A nossa favorita era brincar de boneca. Ela tinha dezenas de Barbies e apetrechos, acessórios que guardavam histórias para nos divertimos por horas. Fazíamos mobílias para a casinha com recortes de papelão, organizávamos espetáculos de mentirinha e traçávamos tramas dignas de novelas mexicanas para os brinquedos. As bonecas da minha prima voavam e tinham telepatia. Sim. Eu era criança, inocente e muito feliz.

Da noite pro dia, meus pais resolveram que eu não devia fazer mais aquilo e eu percebi que teria que começar a brincar escondido. Eu ia fazer o que eu queria, oras. Por que não? Não é o certo?

Só hoje, começo a conhecer a resposta...

Uns tempos depois, ouvi que "só os artistas são realmente felizes, porque trabalham com aquilo que gostam". Nessa jornada da vida, onde a jornada de trabalho ocupa quase um terço do nosso tempo, algumas vezes muito mais que isso, ser feliz com o que se faz é realmente um objetivo muito importante a ser alcançado.

Fui assistir um espetáculo musical esta noite e uma das atrizes se destacou tanto nos holofotes que o comentário no caminho de volta foi: "É tão gostoso ver alguém fazendo algo com tanta paixão." Era esse o diferencial da atriz. Mas não significa que essa felicidade é exclusiva dos artistas. É tão lindo ver um professor preocupado em dar melhores aulas, um jornalista, em escrever matérias mais interessantes, um economista, em buscar  novas formas de margem de lucro, simplesmente porque aquilo os fascina, porque aquilo os agrada.

E comecei a me perder entre as coisas que me apaixonam. Uma conversa boa e boas argumentações, as teclas pretas do teclado e a espera pela digitação de bons textos. Os bons textos. As danças...

"Mas João, nem sempre a gente faz o que gosta!". Concordo. O problema é quando a regra é "nem sempre a gente faz o que não gosta". Porque, afinal, um terço da sua vida não é coisa à toa.

Sabe o que eu e todo mundo devia fazer? Parar de reprimir suas paixões e brincar cada um com a sua "Barbie".


JG



"Ontem de manhã quando acordei
Olhei pra vida e me espantei
Eu tenho mais de 20 anos."


- Vítor Martins e Sueli Costa na voz da Elis-

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dia 12 de junho

Quando passei o dia 12 de junho sozinho, muitos foram os amigos que questionaram por quê. "Você tem alguém incrível aí com você, vá estar com ele!" foi o tipo de apelo que ouvi. Mas eu estava bem em casa de meias grossas e estudando pra prova. Houve quem sugeriu que fosse trauma meu. Trauma? Não, não... calma. O que tem demais para ser comemorado no dia 12 de junho? Além do marco histórico para milhares de filipinos que comemoram sua celebrável independência nesta data, desconheço motivos válidos para comemorar com tamanha efusividade.

"Mas é dia dos namorados, João!". Dia dos namorados? É, já me preocupei com isso. Passei anos contabilizando dias 12 de junho em que passei sozinho e fingia comemorar minha solteirice (ou carência disfarçada). Depois, desculpe se soar presunçoso, vi que esse tal amor celebrado no dia 12 de junho não é passível de comemoração. Mas não se engane antes de eu terminar! Estou dizendo apenas que esse amor, de altar, beatificado e adorado como inalcançável nirvana não combina comigo. A exaltação do amor que extrapola a quantidade aceitável de corações que saltam às vistas em todas as vitrines torna tudo tão mais difícil, mais impraticável, irreal.

E pra mim é tão real. Tão palpável nas frases que me escreve. Tão acreditável no brilho dos seus olhos. É tão cotidiano como acordar e abrir os olhos: acordar e pensar em você. Tão leve, calmo.. Sem frufrus vermelhos e todos os tons de rosa! Pra mim é tão... tão normal!

Pra mim, n(amor)o não é jantar trufas brancas sob céu parisiense estrelado. N(amor)o é todo domingo, cheio de namorico, um franguinho assado e farofa pra depois do amorzinho, como dizia Vinícius.

E viva o dia 12 de junho, sim! Mas como mais um dia 12 de qualquer mês que eu tiver você do lado.



JG