quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Anatomia de uma partida

E lá se vão dois dos melhores ombros que já conheci. Dois ombros para dançar ou se lamentar. Aqueles dois ombros têm movimentos típicos que já identifiquei nos primeiros seis meses de convivência. Inconscientemente, vira e mexe, eles se levantam e rodam para trás e corrigem a postura do seu dono. Ou então quando este queria sair do recinto, jogava os ombros para trás, olhava pra baixo e saia com passo apressado.
Esses dois ombros vão viajar e nem sei quando voltam.

Se em um surto de surrealismo anatômico, eu pudesse deixar só os dois ombros irem eu ainda não ficaria feliz. Porque, junto com as articulações, também vão-se os braços que também têm uma história à parte - são esses que são jogados para cima antes de rodar três vezes, depois jogados para frente para balançar os dois ombros, numa coreografia digna de socialites excêntricas.

E como essa minha imaginação de Jack Estripador não será concebível já sinto falta de cada pedacinho... Dos ouvidos! que me aguentavam ao telefone ou na sala de aula - em volume não controlável. Ah! vou sentir falta do rosto de constrangimento enquanto eu não media minhas palavras. E junto com os ouvidos vão também todos os sentidos em sentido à Europa. O tato, não só o de pele, mas aquele para das conselhos inteligentes em situações perigosas. O olhar, principalmente aquele específico que se perdia entre os transeuntes bem-apessoados e eu já entendia tudo. O paladar, principalmente o meu, que era agraciado com delícias maternas. O olfato, que por fim se deu bem com avisos anti-fumo.

Mas, falam as partes pelo todo? Cada pedaço desses seria suficiente? Não, se você não conhece esse amigo, não entenderá cada parte sem o todo. E minha saudade, que hoje está com as horas contadas, é por esse quebra-cabeça completo. Perfeito quando está tudo junto - de preferência emoldurando um sorriso tão confortante.



JG



ps: boa viagem, amigo. Tenha experiências maravilhosas por lá e aproveite muito! Seja feliz, porque merece. E depois me conta tudo! A saudade vai ser grande mas estou incrivelmente feliz por você. Abraços.





Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

-Milton Nascimento-

Um comentário:

  1. que texto lindo. e certo. e apesar do egoísmo de querer o rafa aqui, tô feliz demais por ele também!


    ps: se vc me fizer chorar na FEA de novo eu te mato! rs

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