domingo, 17 de abril de 2011

Cocada

Era meu gato quando morava no Rio. Ele tinha esse nome porque no tempo em que o adotamos, meu pai vendia água de coco na praia. Cocada era esperto, tranquilo e carinhoso. Meus pais nunca permitiram animal dentro de casa, então ele levava uma vida de gato de muro: caçando passarinhos, tomando sol no telhado e destruindo uma flor aqui e ali. Nos domingos eu acordava antes da casa toda e deixava ele entrar pra ficar comigo na sala enquanto eu assistia TV. Esperto, ele aproveitava a chance para burlar as leis domésticas. Tranquilo, ele se deitava do meu lado e quase dormia. Carinhoso, ele ronronava baixinho para conseguir tirar minha atenção dos desenhos animados.

Mas, Cocada era um gato. Não ficava mais de vinte minutos ali comigo. Queria logo seu quintal, seu muro, seus passarinhos... E nem por isso achava que gostava menos de mim ou eu dele, afinal, liberdade felina não é coisa para se brincar ou negar. Eu só entendia que ele queria ir, mudar, brincar. Sei que ele voltaria, mas não esperava que o fizesse, tomando sua natureza imprevisível. 

Percebi que tenho agido muito como cão e seria bom aceitar que ser gato de vez em quando é necessário. Assim como aceitar que existem muitos gatos por aí e que alguns podem voltar no domingo seguinte, outros não voltam mais.



JG

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