sábado, 11 de junho de 2011

Eles são cariocas (uma biografia fantasiada) - Parte 1

João Gabriel “Janjão” Almeida Sá
n. 1987. Sapateador, banqueiro e apaixonado.

João Gabriel é carioca, sim, mas nunca morou em Ipanema literalmente falando. Veio ao mundo no bairro de Botafogo e foi exilado no paraíso tropical aposentado do Rio de Janeiro: a Ilha do Governador. No entanto seu coração, arredio, assim que chegou em terras mundanas, correu pra boemia de Ipanema e lá vive até hoje. Só entre os bares de poetas e luzes noturnas de paixões fugazes, poderia seu coração viver satisfeito. Por ter o mesmo nome do primo, que nasceu um ano depois e tomou sua exclusividade substantiva, foi apelidado de “Janjão” – alcunha que acabou determinando sua natureza ingênua, boa e, podemos dizer, gente fina.

O Coração de Janjão passeava por Ipanema e parava em qualquer banco com boa iluminação para ler um soneto novo ou escrever uma rima boba. Via os amores passando entre jeans, saias e sungas. Sociável e eremita, o Coração de Janjão poderia estar às gargalhadas e piadas infames entre grupos animados da Praça Nossa Sra. da Paz à tarde, mas ser encontrado sozinho no topo do Arpoador com seu bloquinho pintado de rabiscos no início da noite.

Nas reuniões periódicas entre amigos, colegas, desconhecidos descolados e bicões farristas, o Coração de Janjão disfarçava a solidão com ritmo. Ritmos loucos.Entre o dois pra lá de um samba e dois pra cá de um rock, ele era a figura mais animada da noite, era o que eu mesmo, sempre pensava dele, ali, pulsando animação.

Uma noite, Janjão percebeu que seu corpo perecia com seu Coração tão longe e resolveu aparecer em uma dessas reuniões típicas das coberturas inalcançáveis da Vieira Souto. Encontrou seu Coração no canto da sala barulhenta, debaixo de um abajur de luz amarela, cansado de toda euforia. Deu a mão a ele, ia saindo pela porta estreita, esbarrando entre copos e corpos, quando um rapaz de pandeiro na mão ia entrando, impedindo seu caminho. Ele conseguiu sair da cobertura, alcançou a calçada, chegou a pisar na areia, de onde nadaria até a Ilha. Mas o pandeiro tocou, tamborilou, encantou e o Coração de Janjão não conseguiu deixar Ipanema, nem deixou Janjão ir tampouco. Ele está ali até hoje, com o menino do pandeiro, sambando num ritmo lento com seu coração satisfeito.




JG

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