segunda-feira, 25 de julho de 2011

A morte de Amy, o choro de Chico e nenhuma conclusão.

Quando ouvi a notícia do au revoir às excentricidades de Amy Winehouse na manhã de sábado, a primeira e única explicação que me veio à cabeça foi: "Ela não conseguiu achar a resposta para toda suas questões românticas... nem mesmo nas drogas, onde procurou tão a fundo". (Posso chamar morrer de overdose de "suicídio culposo"?) Com certeza ela foi uma fanfarrona, mas além disso, acredito, ela buscava, de todas as formas, explicar o amor ou a ausência dele. Uma Madame Bovary da Cracolândia.

Se os gênios morrem de depressão, desilusão ou afogados na própria loucura, enquanto o caboclo entre o céu azul e a terra vermelha se vai de exaustão depois de anos de rotina simples, posso concluir que a felicidade está na conformidade da ignorância? Cada dia, cada desengano, cada decisão errada que tomo, penso mais e mais (ironicamente) que pensar demais não faz tão bem.

Não quero dizer que Amy Winehouse foi grande filósofa do século XXI, mas acredito que sua busca intensa é a concretização da dor daqueles que se questionam tanto.

Minha idéia? Vamos baixar um referendo deletando as metáforas e metafísicas! Vamos erguer um monumento a Alberto Caeiro em praça pública! (ou não, pois esta seria o próprio anti-movimento). Vamos trazer o subjetivo à tona e deixar a objetividade reinar. Vamos preencher a semiótica e deixar a ótica lógica e sem óculos. Uma vez ouvi uma crítica do Manoel de Barros a um simples livro infantil dizendo que "a metáfora empobrece a poesia". Isso mesmo! Pensar dói e complica.

No domingo seguinte, ouvi Chico Buarque o dia inteiro - suas tramas, rimas, enredos e idéias geniais sobre a vida, o amor, as mulheres... e de repente me toquei: "Porra, Chico! Eu admiro fanaticamente seu trabalho, mas convenhamos que a vida seria muito mais fácil sem você". Ao mesmo tempo que suas letras explicam tantos sentimentos e eventos confusos, plantam vento nos neurônios apaixonados, que acabam se afogando na tempestade que colhem.

Estou começando a achar que essa síndrome de Zequinha que ronda minha rotina deve ser estancada o mais rápido possível. Em vem de "por quê? por quê? por quê?" vou começar a aplicar mais "Ah, tá..." 's e seguir em frente fingindo que não vi a flor brotando no muro, como tanta gente faz. Viva a sabedoria de Clarice Lispector quando convicta afirma que "o cão é livre pois é o mistério vivo que não se indaga". Au!

Não sei se culpo uma fagulha de artista que resiste em mim, não sei se leio demais, não sei se tenho 7º sentido, não sei se a posição de Netuno não convergia com a constelação de Gêmeos quando nasci... Só sei que parece muito mais fácil quando vejo os outros tão alheios ao céu pintado com todos os tons de dourado às 16h30, da janela do escritório.


JG


"Mentira..."
-Chico Buarque - Samba do Grande Amor

3 comentários:

  1. Sem duvida seria mais facil ignorar nossas aflicoes intelectuais, nossas angustias emocionais, ser mais um a entregar o que esperam de nos sem pensar o que eu espero de mim. Receber promocoes, trocar de carro a cada 2 anos, financiar a casa propria e poder pagar pra ver shows de Amys, Reginas, Joplins, nao pela musica ou pelo assustador talento mas, simplesmente, pra contar pros outros na rodinha do bar que esteve la. A vida seria mais facil, mas provavelmente menos rica, menos instigante, menos desafiadora. A morte da Amy so me faz lembrar o quanto somos vulneraveis, o quanto somos frageis, suscetiveis a nossas ansiedades. A decadencia espetacularizada foi apenas um exemplo midiatico das aflicoes que todos nos passamos em diferentes graus de intensidade. Como artista, despidos de qualquer protecao e expostos ao julgamento do publico, as emocoes tomam dimensoes astronomicas. Eh preciso manter o sentimento vivo e a flor da pele o tempo todo e, infelizmente, alguns pagam com a vida pela coragem de explorar ao extremo suas fragilidades. A condenacao de mais uma louca drogada, burra, estupida, que jogou fora um talento porque era uma sem vergonha nao passa de uma tentativa de exorcizarmos, por meio do julgamento dos outros, nossas proprias fraquezas. Ignora-las eh ser mais um, talvez feliz, mas nao plenamente humano. Ainda quando Clarices ou Pessoas tentam enaltecer o nao pensar, o apenas viver, eh genial pq no fundo eh uma racionalizacao do irracional, nao tem como escapar, por mais que desejemos ser como os caes, nos foi dada a capacidade de questionar, fomos abencoados ou amaldicoados com a insatisfacao, com a inquietude. Gostemos ou nao, cest la vie. O maximo que podemos fazer eh gastar horas invejando os ignorantes, desejando nao saber, tentando buscar mecanismos para desligar o pensamento. Mas a cada tentativa, nos afundamos mais na instigante tarefa de pensar. Parabens pelo Blog.

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  2. Muitissimo obrigado pelo comentário inteligente e direto, como não sei ser nos meus textos.

    Obrigado pelo parabéns.

    Volte sempre.

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  3. Sua comparação com o caboclo já explicou tudo. Foi claro, direto e inteligente ali, o que vem depois foi só um complemento desse pensamento que para mim, está correto e ficou ótimo.

    Parabéns mais uma vez, ótimo texto.

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