domingo, 6 de setembro de 2009

Chuva, frio e domingo. Não podia ser mais óbvio, mais melodramático.

Ela se debruçou sobre o umbral da janela assistindo aos que passavam pela rua fugindo dos pingos que caíam. Nesse momento pensou na tarde em que seu amor partiu. Fugiu de seus braços e se entregou à guerra como se entregava a ela.

Eu fui até a janela e o que vi foram pessoas de guarda-chuva, o asfalto molhado e as folhas se aglomerando nas sarjetas entupidas. Do jeito que é esperado em dias assim. Olhei a previsão do tempo, dei um palpite para a temperatura. Acontece como a metereologia disse.

Liguei a TV para ver as notícias, mas passava um filme triste. Fiz um chá. E pensei que meu amor não está na cidade. Organizei os textos que deveria ler ao longo dia. E o som da chuva lá fora inundava meus ouvidos. Arrumei o quarto. Joguei fora os papéis inúteis. Ouvi a janela batendo. Ouvi a batida no meu peito sentindo sua falta. Li as manchetes no jornal. Arrumei as cortinas. Olhei a rua.

Desliguei a TV, tomei o chá, fechei os olhos e me debrucei sobre o umbral da janela...





JG

sábado, 5 de setembro de 2009

Das mentiras que ouvi

Não se assuste quando eu disser uma fraqueza minha: outro dia contei uma mentira para agradar meu ego. Uma mentirinha boba do tipo “ah, eu já vi isso!” e na verdade nunca nem ter ouvido falar do assunto. E não pense com descaso que “todos nós fazemos isso”. Todos mentem assim alguma vez na vida. Verdade. Poucos assumem. Eu assumi (dessa vez) e me senti bem. No momento seguinte à curta humilhação provocada pelos ouvintes, é claro. Certos eles.

Mentiras que alimentam o ego servem apenas para falsear sua identidade. É como vestir o figurino de outro personagem que não te serve bem, mas você acredita que está perfeito! Sabe quando aquela moça com alguns quilos a mais veste uma blusa apertadinha, se enxerga linda, mas os olhares na rua denunciam o mau-gosto? (não entremos no mérito da questão de exemplo tão medíocre). Pois, mentir dessa forma é assim: só você pensa que está elegante, enquanto o público desconfia e prepara os tomates.

Pensando nisso me lembrei de Dorian Gray. Vivendo uma grande farsa para a platéia bravejar elogios múltiplos enquanto ele passa, enquanto ele fala, enquanto ele engana a todos. Engana e encanta. Veste sua alegoria tão bem maquinada para ludibriar a todos com histórias fantásticas! Estará mais satisfeito quanto mais amarem a ele – ou seu personagem. Pomposo cavalheiro. Inteligente. Bonito. Galante.

Pobre, morreu ao ver a própria verdade.



JG